Ensino

Conteúdo programático em mapa mental: múltiplos usos

Mais qualidade, produtividade e conforto de pensamento

Montando cursos, usei mapas mentais para várias finalidades interessantes; em particular, o mapa mental do conteúdo programático foi utilíssimo. Neste artigo descrevo várias possibilidades de uso de mapas mentais para trabalhar conteúdos programáticos, que podem trazer mais conforto, qualidade e produtividade nessa tarefa tão importante para o planejamento do ensino-aprendizagem.

Nota: O que você precisa para pôr este conteúdo em prática é uma pequena parte do artigo; o restante tem finalidade didática. Para facilitar essa aplicação, que é o que no fim das contas dá sentido ao conhecimento, no final você encontra um sumário da parte relevante em mapa mental.

Visualização da estrutura

Considere este conteúdo programático de matemática (para facilitar, vamos nos referir ao conteúdo programático como CP):

Conteúdo programático – Matemática (parcial)

1. Conjuntos

1.1. Representação e relação: pertinência, inclusão e igualdade.

1.2. Conjuntos: Operações de união, interseção, diferença, complementar e produto cartesiano.

1.3. Conjuntos numéricos e Operações: Naturais, Inteiros, Racionais, Irracionais e Reais.

2. Funções

2.1. Definição de função, domínio, imagem, gráficos, crescimento e decrescimento.

2.2. Funções: polinomiais, modulares, racionais, exponenciais e logarítmicas.

2.3. Progressões: Progressões Aritméticas e Progressões Geométricas.

Agora veja uma representação desse mesmo CP em mapa mental:

Qual você acha que é mais produtivo de entender? Creio que você concorda que é na forma de mapa mental; se não, você domina alguma habilidade especial de pensamento fora do comum.

E por que é mais produtivo em mapa mental? A explicação passa pela forma como nosso pensamento funciona e sua relação com a percepção, mais especificamente a observação.

Imagine que você está querendo construir uma casa. Uma das coisas que faz primeiro, se não terceirizar, é esboçar a estrutura da casa, na forma de uma planta baixa.

Você terá que conversar com alguém sobre essa planta, seja com quem mais vai morar na casa, seja com quem vai construir. Como seria conversar sobre a casa sem a planta? Verifique isso tentando descrever em palavras sua residência atual; você até vai conseguir informar a estrutura, tipo quantos e quais cômodos, mas quando chegar nos detalhes de áreas e distribuição, terá dificuldades e pode ainda nem ter sucesso.

Plantas e mapas tem um papel importante para representar informação: eles nos mostram visualmente a estrutura. Em outras palavras, eles constituem modelos visuais da estrutura de algum objeto ou território.

Um modelo visual da estrutura tem um papel fundamental na nossa inteligência: ele guia a percepção. Por exemplo, ao observar a planta de uma casa, identificamos os cômodos e então podemos nos concentrar em um cômodo de cada vez. A partir dessa estrutura, podemos aplicar o dividir-para-conquistar (prefiro estruturar para conquistar) e é muito mais fácil manter a concentração devido ao suporte visual.

Uma vez tendo uma estrutura, podemos pensar sobre cada componente dessa estrutura. Por exemplo, como será a sala, que móveis e decoração terá? De fato, a estrutura baseia todo o planejamento de estruturação do imóvel e em decorrência o orçamento.

Em outro contexto, como passaríamos sem mapas rodoviários? E se tivéssemos as rodovias e cidades descritas somente em linguagem comum, ou seja, prosa?

Ao observar um mapa rodoviário, podemos descobrir rapidamente quais cidades existem, onde estão e quais os possíveis caminhos entre elas. Um mapa nos informa rapidamente o que existe em um território.

Um modelo visual da estrutura guia a observação e o pensamento.

A figura que representa o modelo da estrutura pode estar no papel, na tela, ou no pensamento. Se a tivermos memorizada, não precisamos de apoio externo, ao qual temos que recorrer para reativar informações que não lembramos. E, memorizando, também o pensamento envolvendo a estrutura pode ser muito mais rápido.

Um modelo visual da estrutura guia a memorização e a lembrança.

Mapas mentais e visualização da estrutura do CP

Quando observamos um CP que não mostra sua estrutura ou a mostra apenas parcialmente, como no exemplo acima, o dificultador é que temos que identificar essa estrutura por nós mesmos e estabilizá-la na mente sem apoio externo.

Já o mesmo CP em mapa mental mostra a estrutura visualmente, até mesmo se reduzido de forma que o texto não possa ser lido, como na próxima figura.

Visualizando a estrutura do CP, então, como no caso de uma planta, podemos rapidamente identificar cada elemento individual e pensar sobre ele, seja avaliando, seja tomando decisões, ao mesmo tempo em que mantemos sua relação com o elemento acima, que lhe proporciona contexto, e sua posição no todo.

Elaboração

Um professor pode receber o conteúdo programático pronto, pode ter que elaborá-lo do zero ou ainda receber uma ementa que deve ser detalhada. Consideramos aqui o caso em que você tem que trabalhar na montagem do CP.

Na minha experiência, elaborar um conteúdo programático não trivial não é um processo linear, mas progressivo: a gente passa por ele várias vezes em iterações (ciclos), a cada iteração inclui, altera e exclui tópicos, muda sua organização múltiplas vezes. Quando estamos planejando as aulas, às vezes descobrimos um problema de sequência ou omissão ou ainda achamos que vale a pena inserir algo, e temos que voltar ao CP (alterando o escopo, dureza!). Uma forma matemática que ilustra muitíssimo bem esse processo iterativo e progressivo é a espiral.

Neste tipo de cenário, torna-se muito importante termos boa visualização da estrutura, para enxergarmos melhor o todo, a estrutura e as dependências, e também que possamos editar rapidamente as mudanças.

É por isso que todos os conteúdos programáticos que fiz desde muito tempo foram editados em mapa mental feito em aplicativo. Já mencionei o aspecto visualização da estrutura; a edição, por sua vez, é muito rápida: mover tópicos requer um único gesto de mouse, por exemplo.

Avaliação de qualidade

Dê uma olhada no mapa mental a seguir, de um já meio antigo conteúdo programático de Biologia do PAS da UnB.

Note que há duas repetições em ramos diferentes, Vírus/Associar características... e Microorganismos/Importância Ecológica (em amarelo mais forte). Pode haver alguma razão que fundamente a repetição, mas o mais provável é que seja uma inconsistência.

Essas repetições podem de fato constituir-se em anomalias de organização. Anomalias de organização geram desordem nas relações entre os elementos do CP, cujo efeito no leitor é confusão, em oposição a clareza, e um planejamento que use esse CP também vai ser prejudicado.

(pt.vecteezy.com)

Quando você for planejar essas partes, terá que lidar com as anomalias que eventualmente receber. Se tiver que mexer muito, fazer as mudanças em um mapa mental será bem produtivo. Isso ainda depende da usabilidade proporcionada pelo aplicativo, mas no geral agrega valor.

A propósito, veja que essas questões de qualidade foram observadas por um completo leigo no conteúdo em questão (eu mesmo), e a visualização da estrutura proporcionada pelo mapa mental ajudou bastante.

Registro e organização de resultados de pesquisa

Idealmente, quando você prepara um curso, teria um único material didático e fonte. Na prática, você terá múltiplas fontes, algumas mais úteis e outras apenas com algum trecho relevante. São várias as possibilidades para cada fonte no que se refere a informações e o que fazer:

  • Fontes descobertas mas não exploradas.
  • Fontes digitais terão hiperlinks para seu arquivo ou página.
  • Anotações, como lembretes e coisas para fazer.
  • Marcações de controle, como concluídas, em andamento e ainda não trabalhadas.

O mapa mental do conteúdo programático pode ser usado como base para organizar e controlar a pesquisa:

  • Se há um hiperlink, ele é inserido no próprio tópico a que se refere; se mais de um, eles são inseridos como subtópicos.
  • Anotações pequenas são inseridas como subtópicos; anotações maiores, como notas de tópicos.
  • Cores podem indicar o andamento, como verde para já processadas, azul para em andamento e sem cor para as que ainda serão avaliadas.

Já fiz muitas pesquisas e ora uso um mapa mental, ora uso o Word, são decisões caso a caso. O painel de navegação das versões mais recentes do Word facilitou muito trabalhar a estrutura do conteúdo, e tornou mais práticas coisas que antes eu só faria em mapa mental. Também já aconteceu de eu começar no Word e depois ir para mapa mental, bem como o contrário.

Acredito que para você também será uma decisão caso a caso, por vezes baseada em experiência; tem coisa que no pensamento parece ótima mas o aprofundamento e a experiência é que revelam mesmo o que é melhor.

A propósito, o EasyMapper 2.0 trouxe recursos que facilitam bastante o registro de resultados de pesquisa; veja o artigo Acelerando a parte mecânica e repetitiva de pesquisas, da seção TCC.

Mapa mental do CP como entregável

O conteúdo programático é um artefato com a interessante característica de ser tanto um produto de informação interno, isto é, de trabalho, quanto entregável, ou seja, será disponibilizado externamente ao processo. O uso tradicional é em documentos oficiais, como no Plano de Curso; vamos ver outros possíveis usos do mapa mental de um CP como entregável.

Sumário para os alunos

Você pode entregar aos alunos o mapa mental do conteúdo programático, que podem usá-los de várias maneiras.

Um conteúdo pode estar mais ou menos ativo na mente; às vezes nos referimos a isso como as informações estarem presentes. Os alunos podem usar o CP para reativarem rapidamente o que já trabalharam com relação à disciplina.

Os alunos também podem usar o CP para fazer verificações de aprendizagem, testando o que sabem para cada tópico. As dificuldades que tiverem vão constituir insumo para o planejamento de dedicação. Uma verificação também pode ser usada para reconhecimento do progresso já obtido; útil para quem estiver com o foco na parte vazia do copo e assim não valorizando o que já conseguiu.

Um formato digital bem usável de um mapa mental é em arquivo PDF, com tamanho de página que caiba todo o mapa mental em uma única página. O visual dessa forma não tem divisões. A partir da versão 2.0, o EasyMapper gera um PDF assim com um único comando.

Em certas circunstâncias e quando possível, prefiro um mapa mental impresso, porque permite uma visão completa do todo no mesmo campo visual. Algo que eu consideraria seria fornecer um impresso do CP para os alunos. Bons programas de mapas mentais permitem sua ampliação; eu consideraria também imprimir uma versão grande para pregar na parede, um poster, onde pode ser visto muitas vezes e ser usado para indicar algum tópico sem ter a imagem digital dele. Essa opção foi usada duas vezes em um episódio de feira cultural, contado nesta página.

Divulgação de curso a distância

Se você vai oferecer um curso a distância, terá que fazer sua divulgação, que geralmente inclui o conteúdo programático. Essa divulgação pode ser feita com a imagem do mapa mental, possivelmente agregando valor à sua autoridade como professor (dependendo de como for feito, claro).

No meu caso, considero que não preciso divulgar o CP completo; não acrescenta nada aos possíveis alunos e ocupa mais espaço. O que costumo fazer é gerar uma versão reduzida, apenas com os níveis principais, talvez três.

Já vi os termos conteúdo programático e ementa serem usados como sinônimos, mas se definirmos ementa como os níveis superiores do conteúdo programático, o que me parece apropriado, então divulgar a ementa do seu curso é suficiente.

Sumário

Abaixo um sumário do conteúdo deste artigo em mapa mental.

Clique aqui para baixar esse mapa mental em PDF (136 kB).

Clique aqui para baixar o original do mapa mental (.easyx, 20 kB).