Ensino

Aprendendo análise sintática de um jeito fácil e rápido

Um mapa mental bem estruturado acelerou o aprendizado

A dois dias de uma prova de análise sintática, meu filho disse que não sabia nada. Seria possível fazer alguma coisa a tempo? Pois foi!

Um certo sábado...

Em uma até então tranquila tarde de sábado, meu filho, na época pré-adolescente no ensino médio, virou-se para mim e disse:

Minha reação inicial foi uma sensação de que não seria possível. Mas, questionando e refletindo que conclusões podem ser superficiais, prematuras, precipitadas, decidi tentar algo, nem que fosse por desencargo de consciência. A propósito, se fosse hoje, seria mais fácil; meu pensamento poderia ser descrito como “não parece possível com as informações e opções que tenho até o momento”.

Buscando então o que fazer, emergiu a ideia de fazer um mapa mental.

Eu já tinha boa experiência em fazer mapas mentais de textos discursivos. Também tinha um aplicativo, o que facilitaria a edição e a impressão; na minha avaliação, papel era a melhor opção para ele usar o mapa mental.

Versão 1

Peguei o livro-texto de Português e percorri os capítulos, selecionando o conteúdo relevante e colocando no mapa mental, seguindo a estrutura do livro: sujeito, predicado, verbo, objetos direto e indireto, classificação das orações e por aí vai, com subtópicos de detalhamento. Essa primeira versão ficou semelhante à abaixo (o original não foi preservado):

Mostrei o mapa mental para ele ainda no computador, para verificar se pelo menos eu estava na direção certa. Ele nem precisou falar; sua expressão me revelou que não tinha havido progresso.

O que estaria faltando?

Versão 2

Tive então o insight que, como disse, marcou a minha carreira de professor como antes e depois: a causa provável para que ele não conseguir usar aquele conteúdo poderia ser tão simples como ele não saber o que fazer.

Voltei ao mapa mental e preparei uma segunda versão. Alterei a organização dos tópicos para montar um roteiro, um passo a passo que pudesse ser seguido. Procurei uma sequência lógica naquele conteúdo e vi que havia:

  1. Delimitar o período.
  2. Distinguir as orações.
  3. Analisar cada oração.
  4. ...

Criei então tópicos principais para cada passo, como na figura:

Mapa mental do roteiro, tópicos principais

Como subtópicos de cada passo, coloquei os conhecimentos necessários para executar cada passo e exemplos. Por exemplo, para o passo 1:

Exemplo de detalhamento de passo do roteiro

Essa etapa foi bem mais rápida, o fato de o mapa mental estar em um aplicativo (e não desenhado) facilitou bastante a reorganização da segunda versão, na maior parte movimentação de tópicos com o mouse.

O mapa mental tinha ficado grande, então fiz uma diagramação particionando-o em vários arquivos, uma para cada página. Veja na figura o mapa mental máster (níveis iniciais) do roteiro, com alguns níveis adicionais como coube no formato A4 (alguns tópicos estão contraídos, isto é, seus subtópicos não são exibidos). Os ícones indicam que há um mapa mental que detalha o tópico.

Mapa mental máster do roteiro de análise sintática

A Figura 2 mostra um detalhamento do passo 4, os tipos de oração coordenada. Considero que os exemplos são fundamentais; descrições somente, para quem não tem experiência, podem ser insuficientes e implicam em risco de distorção de significado.

Detalhamento dos tipos de oração coordenada

Imprimi os mapas mentais e passei para ele. Dali a alguns minutos, ele volta:

E olha que eu nem tinha explicado o conteúdo. Depois ele me contou que se saiu bem na prova. Nada mal para algo que a princípio sequer parecia possível.

Análise

Esse episódio sustenta bem o valor de se ter um mapa mental de um texto. Na verdade, não se trata somente do mapa mental; um aspecto mais central é dispor de uma visualização estruturada de um conteúdo, o que atende nossa premissa de que pensar requer visualização de estrutura; o pensamento não funciona bem em “modo texto”, se é que funciona absolutamente.

Mas mesmo uma visualização de estrutura pode não funcionar. Esse episódio também mostrou que não basta para um aprendiz saber o que significam as coisas; ele precisa saber o que fazer para obter resultados com o que aprende. Assim, a forma como está organizada a visualização de estrutura também é importante.

Você talvez concorde que essas diretrizes – visualização de estrutura, organização adequada – fazem uma enorme diferença em como um professor planeja o ensino; nós as aplicamos bastante em nossos treinamentos.

Desdobramento

Para finalizar, uma curiosidade, um desdobramento futuro desse episódio. Anos depois, montei a MindMapShop, uma loja on-line de produtos relacionados a mapas mentais. O roteiro de análise sintática acabou sendo um dos produtos da loja, e bem conveniente, porque o corpo da obra já estava pronto, só precisando de capa e diagramação. A loja foi descontinuada, mas, se você estiver interessado no roteiro, solicite.