Ensino

Alunos fazerem mapas mentais?

É preciso saber o que está fazendo

Elaborar mapas mentais é uma habilidade, e solicitá-la dos alunos sem preparação requer muito cuidado. Veja aqui opções para usar mapas mentais com os alunos sabendo melhor o que está fazendo.

Nota: O que você precisa para pôr este conteúdo em prática é uma pequena parte do artigo; o restante tem finalidade didática. Para facilitar essa aplicação, que é o que no fim das contas dá sentido ao conhecimento, no final você encontra um sumário da parte relevante em mapa mental.

Por que ter cuidado

Elaborar mapas mentais se parece com escrever em alguns aspectos, sendo o mais importante é que é uma habilidade. Como você deve bem saber, ninguém aprende uma habilidade apenas com conhecimentos e entendimento, é preciso treinar, e treinar consiste em aprender e depois praticar.

Já vi mais de uma vez sugestões para os professores solicitarem aos alunos elaborarem mapas mentais. Sendo uma habilidade, eu tomaria muito cuidado ao fazer isso; dizer que elaborar um mapa mental consiste simplesmente de definir um tema e inserir tópicos e subtópicos é como dizer que escrever é simples, basta por uma palavra atrás da outra e formar frases.

Um texto tem também uma organização de ideias que podem provocar confusão no leitor mesmo tendo boa forma. Um mapa mental também tem uma organização de ideias. Alguns critérios para um mapa mental de qualidade são:

  • Tópicos sintéticos, com o mínimo de texto, contendo apenas uma ideia
  • Os níveis do mapa mental seguem do mais geral para o mais específico.
  • Usar o contexto para eliminar repetições de texto (um tópico é o contexto dos seus subtópicos)

Assim como escrever, elaborar mapas mentais tem um componente motor e um cognitivo. O componente motor inclui o que e como fazer, em um aplicativo ou ao desenhar, conforme a forma de elaborar. O componente cognitivo envolver pensar, incluindo fazer avaliações de qualidade e adequação, entre outras.

Então, imagine você a minha surpresa com algo que aconteceu. Em um fim de tarde, estava caminhando ao acaso para espairecer quando passei em frente a uma escola, onde havia duas alunas. Já ia seguindo quando tive a inspiração de voltar e perguntar a elas se conheciam mapas mentais. Uma delas contou que sim, que uma professora tinha dado uma prova na qual tinha pedido para eles fazerem um mapa mental, e ela explicou na hora o que era! Pode funcionar? Sim, mas na minha opinião há o risco de que alguns alunos não consigam sequer começar.

Opção: mapa mental pré-estruturado

Uma opção aqui de começar mais simples é fornecer aos alunos mapas mentais pré-estruturados, que os alunos apenas preenchem com conteúdo, de preferência familiar.

Um exemplo simples e apenas para ilustrar é o mapa mental a seguir: para certas idades, será fácil para os alunos pensarem ou pesquisarem bichos fofos e usar um tópico para cada bicho.

Uma ótima analogia dessa abordagem é com formulários: a estrutura de campos está lá, e você só preenche a estrutura com seu conteúdo.

(blog.klickpages.com.br)

Fornecer modelos de estrutura para o conteúdo é um dos elementos da abordagem Modelos & Métodos, e que deu origem ao nosso livro Modelos e Métodos para Usar Mapas Mentais, onde são descritos dezenas de modelos em áreas variadas, quando necessário, complementados por métodos.

Opção: exemplos

Outra possibilidade é fornecer mapas mentais, além de pré-estruturados, contendo exemplos de conteúdo, como o da próxima figura.

Note que, além de indicar como é o texto dos tópicos, um dos exemplos sugere uma possibilidade mais específica para direcionar a busca por conteúdo, “filhote”.

Opção: apenas ilustrar

Uma opção ainda mais simples é fornecer o mapa mental com texto e pedir para os alunos o ilustrarem. Assim eles vão se acostumando com a estrutura e o conteúdo sem ter que pensarem sobre algo para o qual não foram treinados.

Opção: decomposição da habilidade

Na aula de tênis para iniciantes, o jovem professor vai ensinar a técnica do saque. Vai até a posição, saca duas vezes e se dirige à turma, dizendo: “Façam”.

(www.researchgate.net)

Aquilo era um “pouco muito” para mim: postura inicial, movimentos de braços, pernas, cabeça e tronco, sem mencionar os olhos, coordenados com uma bolinha em movimento e ainda mirando uma trajetória para a bolinha. Só conheço uma pessoa que, para aprender habilidades motoras, prefere ver o todo ao invés das partes. Esse é um nível superior de habilidade, habilidade para aprender habilidades ou meta-habilidade.

Meta-habilidade: habilidade para aprender habilidades.

Acabei saindo do fluxo do professor e fui treinar sozinho, e a primeira coisa que fiz foi tirar a bolinha, para poder me concentrar primeiro nos movimentos. Também usei uma técnica de meta-habilidade, a câmera-lenta: reduzo a velocidade para aprender o movimento, e só depois disso é que procuro fazer mais rápido.

Um princípio de meta-habilidade é: uma coisa nova de cada vez. Duas ou mais coisas novas podem facilmente sobrecarregar os alunos. Uma possível e grave consequência disso é quando um aluno acha que o problema é com ele e gera alguma crença limitante sobre sua capacidade, quando na verdade o problema é com a didática.

Princípio de meta-habilidade: uma coisa nova de cada vez.

E quanto ainda continua difícil, outra opção que tenho é o princípio da segmentação, que é apenas um nome diferente para o dividir para conquistar: uma técnica é dividida em segmentos e cada segmento é treinado em separado, sendo depois feita a integração.

Princípio de meta-habilidade: segmentação.

Aplicação a mapas mentais

Elaborar um mapa mental, sendo uma habilidade com um componente motor e outro cognitivo, também pode ser segmentado. E a primeira segmentação se baseia no fato de que um mapa mental é uma estrutura para abrigar conteúdo, assim como uma planilha. Com essa divisão, podemos primeiro trabalhar a elaboração da estrutura para depois trabalhar a edição de conteúdo.

Mapa mental = estrutura + conteúdo

No caso de mapas mentais feitos à mão, é trabalhado primeiro o desenho do tópico central, depois os outros.

(blog.edvotek.com)

No caso de mapa mental feito em aplicativo, o que faço é conduzir os alunos a digitarem qualquer coisa, batendo nas teclas ao acaso.

Só depois é que é trabalhado o conteúdo. Imagens também pode ser um passo posterior.

Trabalhe estrutura, depois conteúdo.

Critério

Qual seria a melhor didática para ensinar mapas mentais? Bem, para começar, essa pergunta não me parece lá muito adequada.

Na minha avaliação, há algo mais importante do que a estrutura, modelos, teorias, regras, fórmulas e mesmo metodologias: é a adequação da estratégia didática aos alunos. Seu ponto de partida, como em qualquer coisa que você ensina, é a capacidade atual do aluno. Para alguns alunos você pode descrever o que é para fazer, dar alguns exemplos e ele sai fazendo; outros vão precisar de segmentação.

O fato básico aqui é que um aluno aprende fazendo o que sabe fazer.

Você parte do que o aluno sabe fazer.

Mas você pode estar ensinando grupos de alunos com capacidades diferentes – leia-se desnivelados – e não é fácil, talvez nem possível, ter um ponto de partida comum. É por isso que chamo essa situação de ter alunos desnivelados de um dos “infernos do ensino”...

Uma possível solução começa por estabelecer premissas sobre os alunos, isto é, suposições sobre o que eles serão capazes, tendendo ao menor denominador comum. Depois planeja as atividades com base nas premissas, observa os resultados e adapta o plano conforme os feedbacks obtidos.

Essa abordagem poderia ser chamada de tentativa e erro, mas eu prefiro denominá-la mais precisamente de princípio de experiência e feedback. Em cada ciclo ou iteração você vai aprendendo e progredindo, e fatalmente irá conseguir resultados interessantes – se der tempo, claro.

Abordagem iterativa e progressiva: experiência e feedback.

Sumário

Abaixo um sumário do conteúdo deste artigo em mapa mental.

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